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5 de jan. de 2016

Uma carta para Margarida


Com os pés descalços sobre a terra nua,
Percorro o horizonte profundo.
Nuvens e estrelas, presencio...
Luares e solstícios...
Lá, aonde o oceano declina.
Lá, aonde o céu se inclina para beijar o infinito.
Água da minha água;
Vento que sopra as feridas de outrora,
Acima do arvoredo da infância.
Soldadinhos de plástico em ordem unida
A brincar pacíficos.
Peixinhos dourados voadores que jamais morreram.
Tamanquinhos de madeira a flutuar
Na flor do lago futuro,
Como se fossem Jangadas esperançosas.
Vivemos aqui, assim,
Tu e o teu amor-perfeito, ó Margarida!
Juntos, somos a Via-Láctea, um caminho sinuoso
Sob o qual o universo se desfaz.
Amamos aspergir orvalhos sobre a face tua,
Emanar beijos úmidos, refrescantes,
Sobre a tua lavoura de sorrisos alvos...
Espelho nosso: paisagem dos seres terrestres,
Do flamingo em seu balé rosáceo,
Da coruja com olhos de alvorada,
Da mariposa teimosa que procura a luz
Com asas de sonhos que lhes custam a vida.
Não escrevi, enamorado, esta carta a ti, Margarida!
Simplesmente, ou melhor,
Complexamente inebriado em teu licor eufórico,
Escrevi, sublimado, esta carta de ti,
Margarida, minha, do tempo encantado! Marcelo Soriano Escrevivente

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