QUANDO ELE VIROU PAPAI...
Morre de
felicidade, quando recebeu a notícia que seria papai. Viajou
na maionese: vai ser guri. Forte, taludo, o xodó das gurias. Sai a anunciar:
aos amigos, avós, tias e primos que vai ser pai. Adentra a primeira loja, e
entre risos, escolhe roupinhas. Tudo azul, pois é um guri. Escolhe tamanho
grande. O dono da loja, fala:- pode trocar caso precise. Está tão feliz! A boca
alcançando as orelhas, nem ouve. Noutros dias, a espera do rebento, diz que é
um bezerrinho... A mãe, só enruga a testa. Ele pega o lápis e faz uma lista de
padrinhos. Depois escolhe o nome. João. É nome de homem. É uma menina, diz a
mãe. Vai se chamar Maria, nome de Nossa Senhora, contrariada chora. O pai
entende mais ou menos, levanta e sai. Numa volta, a conversa recomeça. Vai ser
advogado... Vai ficar bonito, do alto da
cátedra. Vai fazer fama e muito dinheiro. Oh, O Guri! Vai andar de patinete,
bicicleta, moto. Vai passar na rua, jogar bulita, caçar passarinho... Moleque mui
esperto!!! Vai pescar, na beira dos açudes. Passar lixinguana, com o vento
minuano soprando, enrolado num cobertor. Eigatê! - É menina, fala a mãe. Troca
aquelas roupinhas ... Eu quero tudo rosa... ele não é grande ainda... Enfatiza
braba. O pai entende que tem que acalmar os ânimos, senão a criança vai nascer
com cara de zanga. Sai, e sorridente chega trazendo um cobertorzinho com
estampa dos três patinhos, e uma banheira rosa. Nasceu uma menina. Corre feliz
pro cartório e registra: - Maria como minha mãe, diz se desculpando. De volta
do hospital carrega aquele anjinho envolto em panos bordados, aquecido por uma
manta cor-de-rosa. Apresenta a casa pra nova moradora, peça por peça e a deita
no bercinho com mosqueteiro alvo como a aurora: poupées e um ursinho azul de
plástico do Paraguai que “no movie la cola y la cabeza”. Dez meses depois
assiste pela vez primeira o banho da sua princesinha. Ela queria morder o
sabonete. Batia com as mãozinhas n’água e o sabonete fugia fazendo espuma. Dava
gritinhos, ele às gargalhadas divertia-se. Aquele banho demorado encarangou a
nenén. Roxa e ensaboada é enxugada às pressas. Em pleno verão com sapatinhos
nos pesinhos e, um abrigozinho de lã rosa. Ele se ri, todo molhado e como se ri.
Que do alto dos céus, Deus os abençoe.
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